A pior melhor coisa que poderia ter acontecido

Jonathan Suzuki
-
19/9/2023
-

Não tenho como negar que a Qulture teve muito impacto na minha vida. Minha saída da Qulture não teria como ser diferente, não é mesmo? Se você sai de um lugar que por muito tempo definiu sua identidade, o que você é depois dele? E qual foi essa identidade?

Vícios...

Só é vício aquilo que é mal visto pela sociedade, todo resto é só hobby

  • Amigoredacted filósofo

Esse texto vai parecer desconexo, mas eu prometo que vai valer a pena (mentira não vai).

Enneagrama: Tipo 3

Eu tava revendo meus textos (não que eu escreva muito aqui rsrs) e percebi que eu nunca falei oficialmente sobre o enneagrama. Pra quem não sabe é uma classificação de tipos de personalidade tipo o 16 personalities, você pode ser um dos tipos de 1 até 9. Eu já quase comecei a escrever um texto sistemático das minhas interpretações de cada tipo do enneagrama depois de ter lido dois livros sobre (não, eu não costumo ler, sim eu li dois livros sobre em 2018 - 2019, não, eu já não lembro muita coisa). Eu não lembro quando foi a primeira vez que eu tive contato com o enneagrama, acho que foi um vídeo aleatório no youtube, mas eu lembro claramente de fazer o teste e ler mais sobre ele e de que cada linha daquele texto ressoava muito forte comigo. E eu lembro que fiquei muito tempo pensando sobre o que significava ser uma pessoa do tipo 3.

Toda premissa do enneagrama é que sua personalidade é baseada nas suas motivações, mais especificamente através do seu desejo fundamental e medo fundamental. Eles são os dois lados de uma mesma moeda. Realizar seu desejo significa que você está longe do seu medo e vice e versa. Eles não acreditam que você mude de tipo ao longo da vida, mas existe um certo nível de mobilidade entre os tipos, em que quando você está bem em um tipo você se parece com outro e estando mal em um tipo faz com que você pareça um outro outro tipo. Enfim posso explicar esse sistema melhor em algum outro momento.

Voltando ao tipo 3:

Pessoas do tipo 3 gostam do reconhecimento, porque sem o reconhecimento eles têm medo de serem ninguém, de não existir. E pra isso eles correm atrás daquilo que vai os fazer capazes, para que em seguida sejam reconhecidos. O role dos tipos 3 é que eles vão perseguir tanto essa imagem, tanto ser útil que em algum momento eles já não vão mais saber aquilo que eles realmente querem, não vão saber os seus reais interesses.

O vício "bom"

O resto desse texto foi inspirado nesse vídeo do Dr. K (Healthy Gamer GG), não precisa assistir eu vou reiterar as partes legais no meio do texto, mas se quiser beber da fonte tá na mão:

Dizem que pra fugir de problemas internos, muitas vezes nós usamos de ações externas, tipo sei lá, tô triste, então vou beber. O meu vício, é o vício em self-improvement (crescimento pessoal? capacitação? qual é uma boa tradução pra isso?). Se eu to me sentindo mal internalmente por alguma coisa, então eu vou lá e vou atingir algum objetivo, vou melhorar em algum aspecto, pq isso vai me fazer sentir melhor. Vou ter orgulho de onde eu estou. Essa reflexão me pegou de calça curta, porque quando eu to meio perdido eu começo a criar esses objetivos etéreos que eu nem sei se quero tanto, mas já que tô sem nada para fazer vou lá e vou pegar e fazer isso. Vou melhorar, vou ser mais útil para alguém.

Esse texto é (e não é) fruto de um desses devaneios. E esses objetivos me distraem (não sei exatamente do que, mas me distraem). E aí o Dr. K. continua falando exatamente o que aconteceu duas vezes essa semana: "Depois que você atingir todos os seus objetivos, o que é que você vai fazer? você vai ficar tranquilo? não, a primeira coisa que você vai pensar é qual o próximo objetivo?". Eu estava com o objetivo de vencer todos os bosses de hollow knight na dificuldade radiant (nessa dificuldade se você tomar um hit você morre) e vencer o pantheon of hollownest (todos os bosses um seguido do outro), terminei no domingo e a primeira coisa que ficou na minha cabeça foi: e agora? Qual o próximo jogo, o que mais eu vou fazer? Pra melhorar na sexta eu corri (machuquei meu pé tbm, mas vamos deixar isso de lado) e atingi o meu objetivo intermediário de correr um tempo que eu estava fazendo a 33 minutos em 30 minutos. Eu fiquei feliz com isso? Nah já to pensando em qual o próximo milestone. Me leram que nem Mateus (discutivelmente o livro mais fácil da bíblia).

Depois que você atingir todos os seus objetivos, o que é que você vai fazer?

Só que isso é um "bom" vício, ele objetivamente melhora a nossa vida. Não sou o suficiente, então vou correr atrás e ser o suficiente. Esse vício em self-improvement me dá direção na vida, me dá energia. É o medo que me faz correr atrás de self-improvement. Se eu não tenho esse objetivo mais, o que é que eu vou fazer?

E é por isso que a Qulture era um lugar tão perigoso. Lá todo mundo tava comprometido em fazer aquele lugar melhor. Dava gosto de ir pro trabalho pq vc via pessoas muito boas fazendo coisas mais legais ainda, correr atrás era pra não atrasar o bonde. Esse ambiente (de música) trazia o melhor de nós e me fazia me sentir muito bem. Um vício que eu não sabia que eu tinha, um vício "bom". Agora que a minha boca de fumo faliu de onde eu vou tirar meu estoque? Tinha um supply ilimitado de objetivos de coisas para melhorar, não precisava nem pensar e o mais legal era que cada problema que a gnt resolvia, normalmente só traziam junto consigo mais dois problemas.

Eu odeio essa coisa de sempre querer dar um reframe pras coisas que aconteceram de maneira positiva. Mas talvez o fim da Qulture tenha sido bom, a pior melhor coisa que poderia ter acontecido, isso balançou (e muito) a vida de quem tava lá. Uma parte de mim gosta de acreditar que esse foi um momento necessário para coisas melhores acontecerem, se a Qulture ainda existisse eu estaria fazendo uma viagem pra Europa em novembro? Provavelmente não. Se José não tivesse sido vendido para os egípcios, quem salvaria a sua família durante os anos de escassez?

Ainda não sei dizer se o resultado é mesmo net positive, a única certeza que eu tenho é que ela deu um bom motivo para repensar a vida. Para alguns foi conhecer novos ares, para outros uma oportunidade num país novo, para mim tem sido a descoberta de um novo dealer (eu mesmo rs).

Threes report that when they realize to what extent they have adapted their lives to the expectations of others, the question arises, “Well, then, what do I want?” They often simply did not know;

Eu sei que sempre falaram de balancear vida + trabalho dentro da Qulture, mas acho que eu nunca fiz muito esforço pra ter esses limites, hoje eu tenho prestado mais atenção nisso. Parece que eu tenho muito mais tempo disponível. Tenho tentado mais coisas novas e... honestamente? Realmente acho que tenho mudado minha vida.

Comentários (0)

    • • •
    © Jonathan Suzuki.