Sobre o invisível

Jonathan Suzuki
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30/5/2021
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Por mais que eu não goste muito de admitir, eu jogo league of legends e gosto do jogo. Tem um estigma em torno do jogo e eu sempre evito falar que eu jogo, mas de qualquer forma isso é um assunto pra outro dia. Eu jogo o joguinho vai fazer 9 anos agora (carai, n tinha parado pra perceber que era tanto tempo) e ao longo do tempo você vai desenvolvendo algumas intuições sobre o jogo e sobre as situações que vão aparecendo.

Eu não sei se você já viu uma outra pessoa jogando algo e conseguiu claramente distinguir: essa pessoa tá em perigo. E ela continua andando normalmente como se nada tivesse acontecendo. E isso não é só em LoL, acontece em smash também, e acredito que acontece em diversas áreas da nossa vida. É como se por alguns segundos a pessoa estivesse cega. É como se aquilo não chegasse nos sentidos dela e provavelmente não chegue. Você consegue ver o range daquela habilidade que está prestes a atingi-la, é o q do blitz, é o grab do Luigi, é o não guardar uma banana quando você está em primeiro lugar no Mario Kart. São as coisas que você consegue sentir e dependendo das vezes até dá pra explicar, como é o caso do Mario Kart, se você explicar pra pessoa ela vai conseguir entender o porque guardar é importante (a apariçao de um casco vermelho deixa isso evidente) e como isso pode garantir a vitória dela. Mas em outros casos é a capacidade de distinguir se vale a pena ou não gastar o mushroom pra passar um oponente ou segurar até um atalho, a resposta nem sempre é clara. Outras vezes depende de tantas variáveis, por exemplo que habilidades eu posso errar num 2x2 na bot lane? Vai ser um 2x2 mesmo? Que habilidades eu tenho que desviar pra garantir a vitória? Eu to começando uma treta que eu não posso vencer?

Não tem uma maneira fácil de criar essa intuição. Ou pelo menos eu não sei uma óbvia e eu tenho certeza que todo mundo cria essas intuições de maneiras diferentes. O mais particular é que quando você vê alguém jogando entrando numa situação que você tem uma intuição, causa uma sensação física o desenrolar da situação: você fica desconfortável vendo que é algo desfavorável, você fica sussa quando você consegue ver que é algo tranquilo e o pior: dói qndo vc vê que naquela situação a pessoa escolheu alguma opção que faz ela perder. O invisível não é apenas aquilo que a gente não vê com os nossos olhos, o invisível é aquilo que a gente não consegue interpretar.

Eu chamaria essas intuições que nós temos como sextos sentidos. Nós não temos o "órgão" apropriado para receber a situaçao como seria o tato ou a audição, mas nós com o nosso maravilhoso cérebro, conseguimos interpretar e criar um novo "sentido" praquilo. É que nem quando você acorda com sono e quer ir no banheiro e não consegue enxergar nada (é claro que nesse caso a memória ajuda), mas a gente consegue interpretar a situação com o tato de certa forma, não é 100% acurado, mas é o suficiente pra gente montar uma interpretação de onde a gente está. E esses sentidos existem pra tudo que é na vida, só é mais fácil de prestar atenção nelas em cenários específicos como eu fiz com os jogos acima.

Às vezes os cenários apresentados podem até mesmo ter diferentes interpretações dependendo da camada que você está vendo: suponha que você está ganhando bot e agora as duas lanes resetaram (deram recall), se você der uma olhada mid/jg vs mid/jg, o seu time está perdendo. Você chega no bot e é possível iniciar uma treta que seria perto, mas vocês ganhariam. Uma vitória, não? Porém nessa vitória vcs ficam muito low e não conseguem ajudar numa treta pro dragon, o time inimigo ganha a treta mid/jg e fazem o dragon. Existia uma escolha anterior que envolvia vocês não brigando bot, mas aguardando pra lutar pelo dragon. No cenário micro, bot lane, a decisão de iniciar uma treta foi boa, no cenário macro custou o dragon e no cenário do tempo, sepá essas duas kills ajudaram vocês a darem um snollball maior na bot lane e carregar o jogo, interpretar o cenário é muito difícil, mas o importante é o metagame: estar a uma camada a cima, vendo o que seu sentido diz sobre aquilo e ver se ele se realizou.

Então - existe um metagame: já dizia um ditado em inglês out of sight, out of mind (fora de vista, fora da mente). Esse minigame de expectativa vs realidade é algo que eu tento fazer sempre, seja quando eu to jogando, seja quando eu to trabalhando em grupo ou até mesmo codando. Atualmente esse é o meu chute de como a gente desenvolve essa intuição. Mas nem sempre é algo que fica na minha cabeça, tem infinitas decisões que eu tomo que ainda são invisíveis pra mim.

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    © Jonathan Suzuki.